Ultimamente, no carro, o meu filho adoptou a mania de se colar à porta de modo a que eu não o veja pelo espelho retrovisor. Diz que eu estou sempre a olhar para ele. E a verdade é que estou, apesar de muitas das vezes estar também apenas atenta ao trânsito e à minha condução.
Ontem, acabei por lhe dizer:
- Um dia, vou achar que não vai ninguém aí atrás e vou esquecer-me de ti quando sair do carro.
- Oh, não vais nada.
- Como é que sabes que não vou?
Ele chegou-se à frente, enquanto eu paráva num semáforo vermelho, e com uma expressão duuhhh, disse de mão erguidas:
- Porque eu sou a coisa mais importante da tua vida!!
Nem soube se rir ou chorar.
- E como é que tu sabes disso?
- Porque sei.
- Quem te disse isso?
- Tu, quando eu estava na tua barriga. Uma vez, disseste-me muito baixinho: "És a coisa mais importante da minha vida!"
Devo ter dito. Não me recordo porque devo ter mesmo dito isso e outras frases semelhantes milhões de vezes, fosse na gravidez fosse depois dela. E, claro que ele não deve recordar-se. Deve ter tirado isso de alguma cena dos Simpsons ou algo do género. O que importa é que ele sabe. Porque realmente é verdade. Ele é a coisa mais importante da minha vida e eu nunca, mas nunca me esqueceria dele, fosse em que circunstância fosse. Tenho é de lhe dizer isso mais vezes.