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booksmoviesanddreams

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Livros que morrerão comigo:

"Norte e Sul" de Elizabeth Gaskell
"O monte dos Vendavais" de Emily Bronte
"Jane Eyre" de Charlotte Bronte
"Villette" de Charlotte Bronte
"A inquilina de Wildfell Hall" de Anne Bronte
"Orgulho e Preconceito" de Jane Austen
"Persuasão" de Jane Austen
"A mulher do viajante no tempo" de Audrey Niffenegger
"Em nome da memória" de Ann Brashares
"Charlotte Gray" de Sebastian Faulks
"A casa do destino" de Susana Prieto e Lea Vélez
"De mãos dadas com a perfeição" de Sofia Bragança Buchholz
"Rebecca" de Daphne Du Maurier
"O cavaleiro de Bronze" de Paulina Simons
"Enquanto estiveres aí" de Marc Levy
"O segredo de Sophia" de Susanna Kearsley

As verdades da vida

Sandra F., 29.08.11

Há três coisas na vida que nunca regressam: O tempo, as palavras e as oportunidades.

Há três coisas que podes destruir: A mentira, o orgulho e a inveja.

Há três coisas que nunca deves perder: A esperança, a paciência e a honestidade.

No entanto há três coisas de maior valor: A família, o amor e a amizade.

 

Um filme da vida real, um livro a escrever

Sandra F., 24.08.11

Ela tem 93 anos. Ele tem 91. Juntos, têm mais de 70 anos de vida em comum. Setenta! Têm um filho, um neto e já bisnetos; todos mais ou menos longe, nas suas vidas, nas suas rotinas e trabalhos onde pouco espaço existe para dois velhos. Telefonam muitas vezes, zelam para que nada falte. Mas o que mais faz falta é a suas presenças, a mão que ampara e cuida, o toque, o olhar directo e verdadeiro.

 

Juntos têm mais de 70 anos de vida em comum! Não conseguem precisar quantos mais exactamente pois antes de se casarem já coexistiam. Setenta anos é uma vida completa. Seguramente haverá muitos outros casais com esta longevidade na relação. Conheço alguns, conheço as suas dificuldades e as suas tristezas. Mas não conheço nenhum que tenha o amor, a dedicação, a cumplicidade e o carinho que estes dois seres nutrem um pelo outro. É muito bonito de se ver. E muito triste, nesta fase final. É muito raro de se encontrar algo assim pois tudo neles é genuíno. Nada é forçado ou púdico ou falso. 

A morte anda próxima. Ele, bem mais conservado, idade real não correspondente com a idade aparente, mas infelizmente portador de diversas patologias incapacitantes e gradualmente terminais. Está no seu limite. Sabe que o fim está próximo e sabe que ela o sabe; sabe que eu sei apesar das palavras animadoras. Ela, mais marcada pela idade, pequenina, magra, corpo vincado pelo tempo, rugoso, uns olhos vivos e simpáticos, um sorriso que aparece facilmente, uma palavra sempre amistosa e agradável nos lábios, vivaça; conhece bem o mundo de hoje e sabe brincar com ele; sabe também chorar e sentir tristeza por coisas que no seu tempo não eram tão banais como hoje. É independente, cuida da casa, do marido dependente, faz as compras e sabe Deus mais o quê. A casa está sempre imaculada, arranjada, muitas fotografias e quadros antigos sem pinga de pó.

 

A morte anda próxima. A expressão dele vai-se tornando gradualmente prostrada e baça. Está no limite e sabe disso. Ela aproxima-se dele, agora triste, tentando conter o choro. Diz que só vai ali ao lado buscar o almoço, como se quisesse dizer-lhe "Espera por mim. Não te vás sem a minha presença". Pega-lhe delicadamente o rosto macilento e pálido nas duas mãos e beija-lhe os lábios. Ele corresponde e olha-a directamente nos olhos com carinho e tristeza. E nem o mais apaixonado dos actores no mais romântico dos filmes olha assim a sua amada. Garanto. "Vou deixar-te sozinha", parece dizer. E percebe-se que essa é a única razão pela qual ainda não partiu. Ela vai buscar um saco para trazer o almoço e observa-o mais uma vez, deitado no cadeirão. Saí comigo para a rua. "Ele vai morrer. O meu querido marido vai morrer", chora ela apoiando-se no meu ombro. Amparo-a e digo coisas banais, das quais já nem me recordo. Mas recordo-me de sentir uma pontada de ciúme. Ciúme sim! E tristeza. Quantos de nós temos oportunidade de viver algo assim? Todos choram os cônjuges, é certo. Uns mais do que outros. Mas raramente o fazem por amor verdadeiro. Fazem-no por egoísmo, medo da solidão ou mesmo por alívio. O amor pode até estar lá mas não é assim exprimido ou sentido, como se ainda fossem dois jovens apaixonados.  

 

A morte anda próxima. E eu queria tanto fazê-los compreender a sorte que tiveram por terem vivido assim, uma vida em comum plena, seguramente com as suas dificuldades, superadas de uma forma ou de outra. Mas não consigo. Como explicar o sentido da ausência, da morte ou mesmo da razão de viver depois de perder o outro? Quando para eles, viver sem o outro, não faz sentido nem tem razão. 

A morte anda próxima. E temo o dia. A frieza e a distância treinada e ganha durante anos perante o fim da vida algum dia terá de cessar, nem que seja por momentos, para dar vazão à sensibilidade e humanidade.

 

A morte anda próxima... e eu guardar-vos-ei sempre em mim. Como guardo poucos. Como pessoas únicas e difíceis de encontrar. Bem hajam. Por me fazerem reacreditar mais um pouco.

Jane Austen

Sandra F., 29.06.11
Jane Austen nasceu em 16 de dezembro de 1775, em Steventon, Hampshire, Inglaterra, sendo a sétima filha do reverendo George Austen, o pároco anglicano local, e de sua esposa Cassandra (cujo nome de solteira era Leigh). O reverendo Austen era uma espécie de tutor, e suplementava os ganhos familiares dando aulas particulares a alunos que residiam em sua casa. A família era formada por oito irmãos, sendo Jane e sua irmã mais velha, Cassandra, as únicas mulheres. Cassandra e Jane eram confidentes, e hoje se conhece uma série de cartas de sua correspondência.
 
Em 1783, Jane e Cassandra foram para a casa da Sra. Cawley, em Southampton, para prosseguir a educação sob sua tutela; porém tiveram que regressar para casa, devido a uma enfermidade infecciosa em Southampton. Entre 1785 e 1786, ambas foram alunas de um internato em Reading, lugar que pode ter inspirado Jane para descrever o internato da Sra. Goddard, que aparece no romance Emma. A educação que Austen recebeu ali foi a única recebida fora do âmbito familiar. Por outro lado, sabe-se que o reverendo Austen tinha uma ampla biblioteca e, segundo ela mesma conta em suas cartas, tanto ela quanto sua família eram "ávidos leitores de romances, e não se envergonhavam disso". Assim como lia romances de Fielding e de Richardson, lia também Frances Burney. O título de Orgulho e Preconceito, por exemplo, foi retirado de uma frase dessa autora, no romance Cecilia.
 
Entre 1782 e 1784, os Austen fizeram representações teatrais na reitoria de Steventon, que entre 1787-1788 foram mais elaboradas graças à colaboração de sua prima, Eliza de Feuillide, (a quem dedicou Love and Freindship). Nos anos posteriores a 1787, Jane Austen escreveu, para o divertimento de sua familia, Juvenilia, que inclui diversas paródias da literatura da época. Entre 1795 e 1799 começou a redigir as primeiras versões dos romances que se publicariam sob os nomes Sense and Sensibility, Pride and Prejudice e Northanger Abbey (que antes se intitulavam Elinor and Marianne, First Impressions, e Susan, respectivamente). Provavelmente, também escreveu Lady Susan nesta época. Em 1797, seu pai quis publicar Orgulho e Preconceito, mas o editor recusou.
 
Não há provas de que Jane foi cortejada por ninguém, apesar de um breve amor juvenil com Thomas Lefroy (parente irlandês de uma amiga de Austen), aos 20 anos. Em janeiro do ano seguinte, 1796, escreveu a sua irmã dizendo que tudo havia terminado, pois ele não podia casar por motivos econômicos. Pouco depois, uma tia de Lefroy tentou aproximar Jane do reverendo Samuel Blackall, mas ela não estava interessada.
 
Em 1800, seu pai decidiu mudar-se para Bath, cidade que Jane não apreciava muito. Nessa época, a família costumava ir à costa todos os verões, e foi em uma dessas viagens que Jane conheceu um homem que se enamorou dela. Quando partiu, decidiram voltar a se ver, porém ele morreu. Tal fato não aparece, porém, em nenhuma de suas cartas, mas foi escrito muitos anos depois, e não se sabe o quanto esse namoro possa ter afetado Austen, ainda que alguns o considerem inspiração para a obra Persuasion.
 
Em dezembro de 1802, estando Jane e Cassandra com a família Bigg, perto de Steventon, Harris Bigg-Wither pediu Jane em casamento, e ela consentiu. Provavelmente, rompeu o compromisso no dia seguinte, e foi com Cassandra para Bath. Cassandra se havia comprometido com Thomas Fowle, que morreu de febre amarela no Caribe em 1797. Thomas Fowle não tinha condições financeiras para se casar, e o compromisso vinha sendo adiado desde 1794; havia ido ao Caribe como militar, justamente para conseguir dinheiro. Nem Jane, nem Cassandra Austen se casaram.
Residência da família Austen em Chawton, onde Jane passou os últimos oito anos de sua vida (hoje um museu).
                                                
Em 1803, Jane Austen conseguiu vender seu romance Northanger Abbey (então intitulado Susan) por 10 libras esterlinas, apesar de o livro ter sido publicado somente 14 anos depois. É possível, também, que nessa ocasião tenha começado a escrever The Watsons, logo abandonando a ideia.
Em janeiro de 1805, morreu seu pai, deixando a esposa e as filhas em situação economicamente precária, e elas passaram a depender de seus irmãos e da pequena quantia que Cassandra herdara de seu prometido.
 
Em 1806 os Austen se mudaram para Southampton, perto da marina de Portsmouth, o que permitia a eles visitar frequentemente seus irmãos Frank e Charles, que serviam na marinha, chegando a almirantes.
 
Em 1809 se mudaram para Chawton, perto de Alton e Winchester, onde seu irmão Edward podia abrigá-las em uma pequena casa dentro de uma de suas propriedades. Esta casa tinha a vantagem de ser em Hampshire, o mesmo condado de sua infância. Uma vez instaladas, Jane retomou suas atividades literárias revisando Sense and Sensibility, que foi aceita por um editor em 1810 ou 1811, apesar de a autora assumir os riscos da publicação. Foi publicado de forma anônima, em outubro, como pseudônimo: "By a Lady". Segundo o diário de Fanny Knight, sobrinha de Austen, esta recebeu uma "carta da tia Cass pedindo que não fosse mencionado que a tia Jane era a autora de Sense and Sensibility".Teve algumas críticas favoráveis, e se sabe que os lucros para Austen foram de 140 libras esterlinas.



A vida normal

Sandra F., 16.06.11

“A Vida Normal”, Carla Machado in PUBLICO, 24.08.2006
Doutorada em Psicologia pela Universidade do Minho

 

“Todos passamos a vida a desejar a vida que não temos. Queixamo-nos do emprego, dos colegas que são chatos, do chefe que não nos dá valor, do muito que trabalhamos e do ordenado que é fraco. Reclamamos do tempo, que chove e não se pode ir à praia, que não chove e faz mal à agricultura, do sol que é pouco ou demasiado, do suor, do frio e do vento, do calor que nunca mais se vai embora e do Verão que nunca mais chega. A família cansa-nos, mas odiamos quando esta nos ignora; dizemos mal do amigos sem os quais não sabemos passar; suspiramos pelo fim do serão em que as visitas se vão embora, mas despedimo-nos combinando um novo jantar. Estamos fartos dos filhos, mas passamos o tempo a falar deles e a mostrar as suas fotografias aos amigos. O barulho que fazem enlouquece-nos, mas o silêncio da sua ausência é insuportável. Queixamo-nos do marido ou da mulher, que não são como dantes, que nos irritam, que não nos surpreendem, mas suspiramos quando nos faltam e reclamamos quando fazem alguma coisa com a qual não contávamos. Estamos no Algarve a suspirar pela frescura do Minho, no Minho damos por nós desejosos da brisa costeira, na cidade irrita-nos o artificialismo e em Trás-os-Montes formigamos com a ânsia de fugir à ruralidade. E do país, todos nos queixamos do país até ao momento em que “lá fora” concluímos com um orgulho disfarçado que realmente “comer, comer bem, só mesmo em Portugal”. De queixume em queixume, passamos pela vida muitas vezes sem deixar verdadeiramente que a vida nos atravesse. E só quando somos roubados ao quotidiano que tanto maldissemos damos conta do tempo que perdemos nos lamentos sobre o tempo que os outros nos fazem perder. Há pouco mais de um mês, numa consulta que era suposto ser de rotina, foi-me diagnosticado um tumor. Felizmente benigno, como soube após 24 horas de espera. E, tal como seria de prever, naquele momento inicial em que o espectro de algo mais grave ainda não tinha sido afastado, o meu pensamento imediato foi: “Mas afinal porque é que eu estou aqui, afundada em Braga a trabalhar, em vez de ter já há muito tempo fugido para Bora-Bora?” Passado contudo tal instante, e nas 23 horas que se seguiram, foi da vida normal que tive saudades antecipadas. A vida normal: trabalhar, ir ao cinema, abraçar quem amo, rir-me das pequenas parvoíces do quotidiano, ver a minha filha a dormir e sentir o seu cheiro. A vida normal está aqui mesmo ao lado. E aposto que Bora-Bora tem imensos mosquitos.”

 

Carla Machado faleceu em Fevereiro de 2011