The White Countess (2005)
Sandra F., 05.01.13
'A Condessa Branca' (tradução literal) ou 'A Condessa Russa' (como foi traduzido para português) é um fantástico filme realizado por James Ivory em 2005. Tem como cenário Xangai, em finais dos anos 30 do século passado, pouco antes do eclodir da segunda guerra sino-japonesa e consequente êxodo em massa dessa cidade.
Coloco as duas capas do dvd apenas porque acho as duas muito bonitas; porque gosto da primeira mas ela dá a entender que é um filme romântico. E na realidade é; só que é de um romantismo tão singelo e tão quase platónico, que acabei por colocar também a outra capa que acho mais adequada ao filme que é.
Mas vamos à história: Todd Jackson (Ralph Fiennes) é um ex-diplomata americano que vive em Xangai. Cego desde há pouco tempo, ele tem um passado dramático e trágico, mas vive, apesar da sua cegueira, com um estado de espírito sempre alegre e bem disposto, sempre pronto para farra e indisposto e até entediado para tudo aquilo que costumava ser a sua vida profissional. No fundo, ele fechou-se para um mundo que sabe não poder mudar. Chegou a Xangai com grande optimismo sobre o futuro da China mas as disputas políticas e a violência militar que fazem parte da vida quotidiana daquele país leva-o a tornar-se amargamente desiludido. Sofia Belinskya (Natasha Richardson) é uma Condessa russa que, tendo escapado à revolução bolchevique na Rússia, trabalha agora em Xangai como dançarina de entretenimento, ou seja é paga para dançar com homens em clubes nocturnos. É viúva e reside com a filha Kátia e com a família do marido (sogra, cunhada e dois tios) num pequeno apartamento que lhes é alugado por um simpático e afável alfaiate judeu. A família do marido claramente não gosta de Sofia, apesar de esta lhes dar todo o dinheiro que ganha e de ser o principal sustento da casa. Ela adora a filha que a ama e tenta imitar, usando as suas pinturas e roupas. Sofia é, também por isso, largamente criticada pela restante família que não aprova a forma como ela ganha a vida, apesar de lhe ficarem com todo o dinheiro.
Eventualmente, os caminhos de Todd e Sofia cruzam-se quando, no clube de dança, ela o salva de ser roubado por dois homens. Ele fica encantado com a voz dela e com o facto de ela ser uma condessa russa exilada, descobrindo nela uma fusão de beleza e tragédia. Separam-se mas, tempos depois, quando ele ganha uma quantia substancial de dinheiro numa aposta, decide realizar um velho sonho e abrir um clube para a classe alta e cosmopolita de Xangai. Convida então Sofia para ser a sua principal anfitriã no clube e baptiza-o como o nome dela 'The White Countess'. O tempo passa e é evidente que ambos se apaixonam um pelo outro. No entanto, convivem como amigos, sem nenhum deles revelar nada das suas histórias pessoais ou dos seus sentimentos. Até que o clima político lhes troca as voltas e Todd é obrigado a encarar a realidade quando a possibilidade de separação é demasiado evidente. Contra uma multidão aterrorizada que foge da cidade, cego e sem qualquer ajuda, ele busca Sofia e Kátia antes que ambas se evaporem da sua vida para sempre.
O final é muito bonito. Depois da angústia da procura de Sofia pela filha (que a restante família tenta levar dela através de mentiras) e da deprimente e triste procura de Todd por Sofia por entre a multidão, eles acabam os três num barco que os leva para Macau. Para quem vê, é mesmo para respirar de alívio, não só porque sofremos com a incapacidade visual de Todd quando procura por Sofia mas também com a angústia dela que quase perde a filha. E presencia-se o assumir de um amor que esteve até então escondido, mas que surge naturalmente para ambos, como se tivessem sempre expressado os seus sentimentos um ao outro e só agora o assumissem perante o mundo.
Foi o último filme que vi em 2012. E foi uma maneira muito boa de acabar o meu ano cinematográfico.